Durante essa viagem que fiz aos países do norte da Europa no inverno, reparei que os caras gostam muito de fogo.
Não é difícil imaginar o motivo, já que com temperaturas congelantes e nevascas que duram meses, ter uma fonte de calor é sempre algo interessante.
Mas o que me chamou bastante a atencão foi o fato do fogo estar sempre presente em eventos de grande porte, como os que fui cobrir na Letônia e na Suécia.
As duas cidades que, foram nomeadas Capitais Europeias de Cultura em 2014, deram um grande destaque à ele em suas cerimônias de abertura.
Riga organizou um grande show com esculturas de madeira que, ao serem incendiadas, formavam belíssimos desenhos na noite da capital leta.
Duas semanas depois, embarquei pra Umeå, no norte da Suécia, para o final de semana mais esperado dos últimos anos na cidade. Afinal, não é sempre que uma cidade pequena está no centro das atenções de um evento continental.
De acordo com a programação oficial de Umeå 2014, o Burning Snow seria o auge das celebrações da coroação da cidade como referência cultural da Europa.
Particularmente, acho shows pirotécnicos sempre muito legais, mas aquele em especial havia me deixado ansioso. Isso porque ele aconteceria em cima de um rio congelado. Como é comum no inverno, o rio Ume, que corta a cidade, fica congelado por vários meses e o pessoal da organização achou uma boa ideia fazer um show repleto de fogo em cima dele.
Nada mais normal sob o ponto de vista de um cidadão local, mas pra mim era algo muito diferente.
E por volta das 4 da tarde de um sábado, fui para o centro de imprensa debaixo de uma nevasca pesada, de onde sairíamos em grupo para o local destinado aos jornalistas.
O Burning Snow aconteceu no Rådhusparken, um parque que se estende da avenida principal da cidade até o rio Ume. Segundo a organização do evento, cerca de 55 mil pessoas estiveram lá prestigiando o show. Honestamente, não imaginei que tanta gente fosse ao show, principalmente por causa do frio, mas de fato o parque estava completamente tomado pela massa.
Nosso lugar era privilegiado em relação ao grande público, já que fomos acomodados na frente deles e com uma vista completa do que aconteceria no rio. Mesmo assim, a distância era grande e isso me deixou levemente decepcionado, já que as fotos não ficariam tão boas quanto eu gostaria.
O show começou pontualmente às 17h (e já estava escuro há mais de uma hora) com o discurso de algumas autoridades locais como o prefeito de Umeå, o ministro da Cultura da Suécia e mais alguns figurões da região. Se discursos enormes e demorados já são chatos por aqui, imagina ficar ouvindo isso em sueco e passando frio. Foram alguns minutos realmente chatos.
Pra não dizer que não teve nada de interessante nessa parte, eu gostei muito do destaque que eles deram aos Sami. Sami é o povo da Lapônia e hoje é considerado a última tribo ainda existente na Europa. Naquela região da Suécia, eles são muito presentes culturalmente e suas influências podem ser vistas na música, folclore, culinária e nas vestimentas.
Como o povo sueco respeita e valoriza demais os Sami, eles deram um belíssimo destaque pra eles no Burning Snow. Não só nesses discursos políticos, mas também no show em si, com músicas e danças típicas.
Mas enfim, depois da parte política, o show começou com um coral, do alto de um prédio. Eles cantaram por uns 10 minutos algumas músicas que devem ser populares por ali, já boa parte do público cantou junto e aplaudiu bastante.
Na sequência do coral, vieram diversas apresentações que variavam entre música e dança. Bandas locais, grupos folclóricos, cantores solo e muitas coreografias sempre com grande destaque para o fogo. E ver tanto fogo em cima de um rio ainda me causava uma certa estranheza. Mas uma estranheza bem legal.
Durante todos esses shows, dois momentos em especial foram marcantes pra mim. O primeiro deles foi quando, pelo alto falante, o locutor pediu pra que todos os presentes acendessem as lanterninhas que haviam recebido na entrada do parque.
Apesar de eu não conseguir ter uma visão ampla de todo o público, foi legal demais ver o parque completamente iluminado por pequenas luzes que vinham da platéia. Como estava completamente escuro, o efeito dessas lanternas pode ser visto no céu de uma maneira bem bonita.
O outro momento legal foi quando vários drones sobrevoaram o rio e o público, fazendo diversos desenhos, mudando de cor e fazendo todos olharem pra cima por vários minutos.
O auge dessa parte foi quando as bolinhas se alinharam no céu fazendo o coraçãozinho sorridente, que é o símbolo máximo de Umeå 2014.
Nesse momento, não havia frio que contivesse a empolgação do público, que foi ao delírio.
Por fim, uma imensa queima de fogos, daquelas que estamos acostumados a ver nos reveillons por aqui, marcou o final do Burning Snow. Deu pra ver nos olhos do público, voluntários e organizadores o orgulho em realizar algo de dimensões tão grandes e atrair os olhares de tanta gente diferente pra Umeå.
Alguns dias depois, recebi um email da organização dizendo que o Burning Snow completo será lançado em vídeo, mas enquanto isso não acontece você pode ver um pequeno trailer no vídeo abaixo. Vale muito a pena!
Burning Snow - Short from umea2014 on Vimeo.
Ao final do show, confesso que o alívio foi imenso. Aquelas três horas com o pé enterrado na neve já faziam efeito e a dor causada pelo frio já estava dando as caras. Fiquei me movimentando o tempo inteiro pra tentar diminuir a sensação de dormência nos pés, mãos e rosto, mas mesmo assim, com o fim o do show, saí correndo pro primeiro lugar fechado que encontrei. Uma cerveja ajudou a esquentar e em alguns minutos a situação já estava sob controle.
No dia seguinte, encontrei meus amigos Marcela e Gastão, do Fotostrasse, que também estavam lá cobrindo o evento, pra uma caminhada sobre o rio congelado enquanto os trabalhadores faziam a desmontagem dos equipamentos do show.
Foi divertido, cruzamos o rio desde a sua margem sem sermos incomodados pelo pessoal que trabalhava e foi engraçado ver como algo tão corriqueiro pra algumas pessoas pode ser tão diferente pra outras.
O Viagem Criativa viajou para Umeå a convite de Umeå 2014
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