De tudo que me surpreendeu nessa viagem à África do Sul, acho que a diversidade de atrações que o país oferece foi a mais marcante.
Estamos acostumados a associar o continente africano aos safáris e à vida animal, quando na verdade existe uma infinidade de outras atividades por lá. Grandes centros urbanos e de compras, praias fantásticas, esportes radicais, boa comida e alguns dos melhores vinhos do planeta estão na quase infinita lista do que fazer ao visitar a África do Sul.
E apesar de não ser a única coisa por lá, obviamente que essa vida animal tem um destaque gigantesco. Os safáris ficaram muito populares entre os turistas europeus nos anos 60, especialmente no Quênia, tornando esse destino um dos mais caros do continente.
Essa questão dos preços coloca a África do Sul numa posição de destaque pro turismo brasileiro. Quando estive lá, em outubro de 2014, o Real valia cerca de 4 Rands, o que é um baita negócio pra gente. Além dos preços bons, nossa moeda é bastante valorizada por lá.
Mas enfim, voltando à vida animal sul-africana, o roteiro que a Pangea Trails - a operadora que nos levou pra conhecer o país de carro - oferece tem várias atividades relacionadas aos bichos, que vão desde os safáris mais convencionais até interações com os mais diferentes animais. Como nesses 30 dias que nós ficamos por lá rolaram muitas situações com esses animais, eu resolvi separar em tópicos, destacando os diferentes tipos atividades, começando pelos safáris. Vem comigo!
SAFÁRI DE CARRO
Esse é o tipo mais clássico dos safáris.
São 10 pessoas dentro de um jipe aberto nas laterais, levadas pra dentro de uma reserva com vários tipos de animais selvagens, com a possibilidade de chegar bem perto deles, numa experiência única.
Nós fizemos dois safáris desse tipo na região do Parque Nacional Kruger. Esse é o parque mais famoso de toda a África e é tão grande que precisa de pelo menos uma semana pra ser visitado. Pra você ter uma ideia, o parque tem o mesmo tamanho de Israel!
O Kruger é famoso por ser a casa dos "Big 5", os cinco animais africanos mais difíceis de serem caçados. São eles: leão, leopardo, elefante, búfalo e rinoceronte.
Os Big 5 são uma espécie de obsessão entre a maioria dos turistas que vistam aquela região do país. Todos eles querem voltar pra casa com fotos e histórias bem-sucedidas de que conseguiram ver todos eles. Mas acredite, não é tão fácil assim. Talvez por isso mesmo seja a obsessão de tanta gente.
Como nós tínhamos pouco tempo naquele pedaço da África do Sul, não chegamos a entrar no Kruger. Visitamos duas reservas particulares, na cidade de Hoedspruit, mas que também abrigam os cinco animais no mesmo espaço.
Depois que nos acomodamos no jipe, era a hora de ouvir as instruções de segurança. Os guias explicam que quase todos os animais enxergam o carro como um único bloco, sem conseguir distinguir as pessoas separadamente. Por isso, eles pedem que não sejam feitos movimentos com braços ou qualquer coisa fora do carro, porque isso desmontaria esse bloco enxergado pelo bicho, e aí poderíamos enfrentar sérios problemas.
Mas obviamente, nem tudo é tão simples assim. Isso porque um entre esses cinco animais consegue ver cada uma das pessoas dentro do carro. É o búfalo. Então, esse procedimento é ainda mais rigoroso quando se está cara a cara com os búfalos. Nada de movimentos bruscos, nem mesmo dentro do carro. É preciso ficar quieto, quase como uma estátua, para não despertar a curiosidade deles. Ouvir isso parado, antes de entrar na reserva foi bem fácil. Difícil seria imaginar o quão calmos nós estaríamos na hora do "vamo-ver", de frente pras feras.
Logo depois dessas orientações, o guia liga o carro e entra de fato na reserva. Com alguns minutos, num misto de excitação e tensão, olhando pros arbustos na tentativa de enxergar alguma coisa, o guia diminui a velocidade, vira à direita e avisa que havia um grupo de leões por ali.
Mais alguns segundos e conseguimos ver cinco leões deitados. O guia chega perto, desliga o carro e avisa novamente pra evitarmos os movimentos bruscos e os barulhos.
É incrível ficar tão perto desses animais no habitat deles. Apesar da tensão, que não vai embora em nenhum momento, a beleza do leão impressiona demais, mas é complicado imaginar que se por algum motivo ele resolver nos atacar, não há nada a ser feito. Como eles pareciam mais preocupados em dormir, não se importaram muito com a nossa presença.
Poucos minutos e muitas fotos depois depois, o guia perguntou se já estávamos prontos pra sair dali e ir atrás de outros bichos interessantes.
Com a resposta positiva, ele ligou o carro e despertou a atenção de dois daqueles leões ali. Até esboçaram uma pequena vontade de investigar nosso jipe, mas ainda acho que o sono tava mais interessante, então eles ficaram por ali mesmo.
Pegamos uma das trilhas da reserva e o guia, como sempre, dizia pra gente ficar alerta aos arbustos do lado e caso víssemos alguma coisa, era pra avisar que ele pararia o carro.
E quando passamos por um pequeno laguinho, deu pra ver um grupo bem numeroso de rinocerontes. Dessa vez a tranquilidade reinou no nosso jipe, já que os animais estavam lá do outro lado do rio, sem oferecer perigos pra gente.
Não sei vocês, mas eu acho rinoceronte um bicho fantástico. Eles parecem dinossauros e o nosso guia disse que o couro deles é o mais difícil de ser penetrado no reino animal, de tão grosso.
Fascinante demais. E pra melhorar, enquanto estávamos ali tirando umas fotos, começou uma briga entre dois deles! Rolaram até algumas cabeçadas - que devem ter doído, a julgar pelo barulho! - numa disputa por território ou por uma fêmea. Consegui registrar a fumacinha saindo do chão, causada pela correria deles.
Foi um momento legal demais! :D
Esse primeiro safári foi feito no final da tarde, já próximo do pôr-do-sol.
Então, logo depois de termos visto os rinocerontes, o guia nos levou até uma área aberta para que a gente pudesse assistir ao sol se pondo ali no meio da reserva.
Os caras oferecem até uma espécie de café da tarde, com comida e bebida pros visitantes. É divertido, e uma cerveja sempre cai bem.
Ao fim do primeiro dia, havíamos visto dois dos Big 5. Me pareceu ok!
Depois de uma noite tranquila de sono, acordamos umas 5 da manhã no outro dia. Confesso que acho torturante acordar esse horário, não importa o motivo.
Mas depois de alguns minutos, o mau-humor passa, principalmente porque o motivo de acordar tão cedo era realmente legal: faríamos outro safári, bem parecido com o do dia anterior, mas em outra reserva.
Pode parecer estranho fazer algo semelhante duas vezes, mas a explicação é a mais simples possível: os animais têm hábitos completamente diferentes ao longo do dia. Então, pela manhã teríamos a chance de ver os bichos saindo pra caçar, ao contrário do final da tarde, quando a maioria já está cansada.
Lá fomos nós no mesmo jipinho, rumando para a nova reserva.
E nessa, o contato com os animais aconteceu logo de cara, nem foi preciso esperar muito.
Com pouquíssimos minutos lá dentro, já demos de cara com dois rinocerontes caminhando tranquilamente pela estradinha.
O guia resolveu seguir os dois, imaginando que eles estavam andando em direção a um grupo ainda maior.
Como ele é um cara experiente, acertou no palpite. Andando devagarinho atrás dos dois, nós chegamos a uma área aberta bem grande onde vários rinocerontes estavam tranquilo, tomando sol junto com alguns amigos: búfalos!
Era o terceiro dos cinco gigantes que encontrávamos ali.
Nessa hora veio a lembrança do dia anterior, quando ouvimos que o búfalo consegue ver as pessoas separadamente dentro do carro, então era a hora de manter a calma e fotografá-los da maneira mais tranquila possível.
Mas enquanto estávamos ali, reparei que diferentemente do dia anterior, os rinocerontes dessa reserva estavam com os chifres cortados. E isso me incomodou demais, muito mesmo.
Eu perguntei pro guia porque eles estavam assim, ao contrário dos primeiros que havíamos visto.
E a resposta foi tão cruel quanto o ato. Segundo ele, muitos caçadores invadem a reserva pra matar os animais e pegar apenas o chifre, já que acredita-se que ele tenha uma propriedade afrodisíaca. Pra evitar isso, o próprio dono da reserva prefere cortar o chifre e deixar o animal vivo, do que esperar que eles sejam mortos. Sim, beira o inacreditável.
Eu entendo a boa intenção do cara que prefere ver um animal mutilado, mas vivo, só que ainda assim é uma cena forte e ofensiva. Eu realmente fiquei chateado enquanto olhava aqueles rinocerontes incríveis.
Então imagina só que uma indústria movida por homens que pensam no desempenho sexual sacrifica uma quantidade incalculável de animais selvagens. Triste, amigos.
Antes de irmos embora, ainda deu pra ver a carcaça de um animal que havia virado refeição, provavelmente no dia anterior, de algum leão ou leopardo.
Uma boa lembrança de que apesar de tudo, eles estão no controle ali.
SAFÁRI A PÉ
Safari a pé é um negócio que eu nem imaginava existir. Na minha cabeça, o risco de se caminhar no mesmo terreno que um leão ou um leopardo é tão grande que já elimina a possibilidade de fazer.
E de fato, esse tipo de safári eu nem vi. O que a gente fez é bastante tranquilo, porque acontece numa reserva que só tem animais herbívoros. E obviamente, isso elimina a chance de sermos vistos como o almoço deles.
Uma das coisas mais legais é que essa nossa caminhada aconteceu dentro do hotel em que estávamos hospedados. Sim, o hotel fica dentro da reserva. É tão legal que um dia abri a porta do meu quarto e dei de cara com 3 zebras verificando o movimento.
Se você pretende visitar a África do Sul e seus parques, dá uma olhada no site do Detecta Hotel para achar um hotel legal dentro das reservas. Vale muito a pena!
Enfim, no terceiro dia logo pela manhã, encontramos o Patrick, que seria o guia pelo safári terrestre. O cara nasceu ali na região, então conhece absolutamente tudo sobre a vegetação e os animais que vivem ali.
O Patrick começou a trabalhar como guia há pouco tempo e por isso ainda está fazendo aulas de inglês, para poder se comunicar com os turistas. Achei isso fantástico, torna ainda mais autêntica a experiência.
A caminhada começa com o guia explicando um pouco sobre as árvores, frutas e plantas da região. Ele disse por exemplo, que quase todos os produtos de limpeza que a gente usa hoje em dia têm similares na natureza.
Até pegou umas folhinhas e misturou com água pra mostrar como é um sabonete natural que se encontra no meio do mato.
Depois, ainda pegou uma fruta bizarra, cheia de espinhos que é famosa por machucar a boca das girafas, já que elas saem mordendo sem pensar duas vezes.
O contato com os animais é imensamente mais tranquilo durante esse safári a pé, em relação com o feito de carro.
Como falei ali em cima, o fato de ter apenas animais não-carnívoros na reserva facilita tudo. Girafas, zebras, antílopes e impalas são alguns dos bichos que vivem ali. E eles só vão te causar problemas se você resolver encher o saco. Fora isso, você será completamente ignorado por eles, o que é um excelente sinal.
Logo de cara, o Patrick mostrou pra gente várias pegadas no chão e nos ensinou a diferenciar cada uma delas. Claro que pra gente, valeu pelo conhecimento, mas não é exatamente algo que vamos usar na prática.
Mas pra eles que moram lá, é fundamental quando se depende de uma caça para jantar ou pior ainda, quando não se quer ser a caça, já que eles manjam tudo das pegadas dos animais carnívoros também.
Então, se de repente uma pegada de leopardo aparece, é um bom motivo pra mudar a direção da sua caminhada.
Depois da aulinha sobre pegadas, não demora muito pra o primeiro contato com os animais acontecer. E aí vem a primeira grande diferença para o safári no carro: como esses animais não oferecem um perigo efetivo, falta um pouco de emoção na jogada. Claro que ver uma zebra ou uma girafa na sua frente é sempre divertido, mas acho que a adrenalina é um fator importante ao fazer algo desafiador.
Mas é só deixar um pouco de lado as memórias do dia anterior e curtir o dia com companhias tão nobres.
Viva os animais! :D
O Viagem Criativa viajou à África do Sul a convite do South African Tourism e com o apoio do Travel Concept Solutions, South African Airways e Detecta Hotel
4 Responses