Quem nunca "meteu o louco" e saiu explorando uma cidade completamente desconhecida sem nenhum conhecimento anterior, sem guia, só passeando ao redor e imaginando como as coisas deveriam ser?
A gente já quase cometeu esse deslize algumas vezes e devo dizer que em lugares com muita história, como Dresden, isso pode comprometer muito o seu entendimento sobre a cidade.
Dresden fica no meio do caminho entre Berlim e Praga, na República Tcheca, o que faz com que a maioria dos visitantes apenas passe por lá, tornando a experiência muito limitada, porque que a cidade tem muito mais a oferecer.
Inclusive, recomendamos que quando você for pra lá, planeje ficar pelo menos dois dias, pra não perder nada.
Chegando no centro histórico de Dresden, a capital da Saxônia, você dá de cara com uma cidade bastante medieval e com prédios incrivelmente imponentes. Tudo parece muito rico em história e beleza e a primeira coisa que vem à cabeça é o quanto aquelas ruas e aqueles prédios já viveram. E devo dizer que viveram muito!
Em um dia inteiro, você consegue percorrer as ruas com certa tranquilidade e ver todos os prédios do centro histórico. Eles ficam próximos uns dos outros, então é um bom momento para fazer um apanhado geral das paisagens, da arquitetura da cidade, enquanto faz uma pausa para um café, cerveja ou até mesmo um bom currywurst.
Alguns desses prédios abrigam museus muito legais, como o museu de História Natural, museu da Porcelana, museu dos Mestres da Arte (lá está a Sistine Madonna, do Raphael, cujos anjinhos foram art pop nos anos 90), museu da Música, da Matemática e por aí vai... Se você curte um museu ou galeria de arte, vale a pena tirar mais um dia só pra isso.
Algo que chama a atenção logo de cara é a coloração escura da maioria das pedras dos prédios. Alguns deles são quase pretos mesmo! Por alguns momentos, você pode achar que isso acontece porque os eles sejam muito velhos, mas na verdade é apenas uma característica das pedras originárias da região. Com o vento, sol e chuva, elas adquirem esse aspecto, não importa a idade que tenham.
Eis outro detalhe que é preciso ter em mente ao visitar Dresden: o que aconteceu no dia 13 de fevereiro de 1945. A Segunda Guerra já estava chegando ao fim, com a Alemanha em frangalhos, quase se rendendo. Só que os Aliados não quiseram esperar e prepararam um ataque pesadíssimo a Dresden, usando bombas incendiárias. O resultado disso é que a cidade foi completamente devastada. Não sobrou quase nada mesmo!
A única construção que não caiu na parte central foi a torre da Prefeitura, onde é possível ver um relógio no topo. Todo o resto teve que ser reconstruído. E até hoje ainda existem quarteirões inteiros sob trabalho de restauração.
Agora vamos detalhar um pouco do que a gente mais gostou durante o passeio pelo centro histórico de Dresden. Nosso passeio foi guiado pela Cris Piazza, uma brasileira que mora há 7 anos na cidade e oferece esse tour em português. A gente recomenda muito! Pra entrar em contato com ela, é só escrever pro info@guia-dresden.de!
Semperoper
O Semperoper é a Ópera de Dresden, um prédio muito bonito que fica na Theaterplatz.
Idealizada pelo arquiteto Gottfried Semper (daí o nome do prédio!), ela ficou pronta em 1841, mas foi devastada por um incêndio em 1869. O mesmo Semper foi chamado e ajudou na reconstrução da Ópera, que ficou pronta novamente em 1878. Detalhe: Gottfried havia sido banido de Dresden por questões políticas. A reconstrução ficou a cargo de seu filho, que trocou inúmeras cartas com seu pai. Então podemos dizer que a Ópera foi reconstruída via correspondência!
É uma Ópera bem importante, com espetáculos de dança e apresentações de orquestras quase que toda a semana. Compositores da importância de Strauss e Wagner, por exemplo, realizaram trabalhos muito representativas por lá. Foi Wagner quem introduziu os tons mais graves na música e por isso ele também é considerado o "pai" do metal. Doido né?
Dá pra visitar o interior da Ópera, mas ela estava fechada no dia em que passamos lá. Mais uma dica: sempre se informar antes sobre os horários de funcionamento, para evitar essas coisas!
Zwinger
Um imenso palácio construído em estilo Rococó que já foi parte de uma fortaleza e hoje abriga uma série de museus. Esse é o Zwinger, um passeio imperdível no centro histórico de Dresden.
Os primeiros registros de Dresden como uma cidade fortificada são do Século XII, mas a área que hoje pertence ao Zwinger ficava fora dos muros até o Século XVII, quando Augusto O Forte contratou o arquiteto Matthäus Daniel Pöppelmann para construir algo espetacular.
Construído em etapas, entre 1710 e 1728, o Zwinger foi inaugurado oficialmente em 1719, com o palácio e um imenso jardim que ia até a beira do Rio Elba, onde hoje fica o Semperoper.
O complexo foi bastante danificado no bombardeio de 1945 e só voltou a ter o aspecto original em 1963.
Além do Museu de Cerâmica, de Matemática e dos Mestres da Arte, uma das grandes atrações é a coroa que fica em uma das entradas do Zwinger.
Ela está lá pra representar a coração de Augusto O Forte como rei da Polônia. A história é boa: o título oficial dele era Príncipe-Eleitor da Saxônia. Esse título já seria uma grande coisa, mas como ele era megolamaníaco, queria ser rei de qualquer maneira. Bom, Augusto, como ser rei se você não está na linha sucessória de nenhum reino? Fácil: compre um reino!
Foi isso que Augusto fez: comprou a Coroa da Polônia e virou rei de lá. E aí mandou colocar a coroa no Zwinger pra dar aquela ostentada pros outros príncipes (e pra todo mundo).
Frauenkirche
A Igreja de Nossa Senhora (ou Igreja das Mulheres) é, com certeza, um dos lugares mais impressionantes que você pode visitar no centro histórico de Dresden.
Visualmente, ela já impressiona bastante, com seus 91 metros de altura e sua cúpula toda em pedra (um desafio arquitetônico para a época) que é comparável à Basilica de São Pedro, no Vaticano.
Não bastasse toda essa imponência, essa igreja tem uma história tão incrível que beira o inacreditável. Assim como quase toda a cidade, a Frauenkirche ficou intacta até o finalzinho da Segunda Guerra.
Logo após o bombardeio de fevereiro de 1945, muita gente procurou abrigo dentro da igreja, justamente pelo fato de ela ser uma construção que, ao menos em teoria, aguentaria todo esse impacto.
De fato, ela aguentou. A Frauenkirche ficou de pé, mesmo depois do ataque aéreo dos Aliados. Acontece que as bombas lançadas não eram apenas explosivas. Eram também incendiárias. Ou seja, após a primeira explosão, elas continuavam pegando fogo e espalhando calor pra todos os lados.
Agora imagine o que aconteceu com essa enorme construção de pedra após um ataque de bombas incendiárias: a Igreja passou de abrigo a um gigantesco forno. Dois dias após o bombardeio, os 300 refugiados perceberam que ela não aguentaria o calor e fugiram em direção ao Rio Elba. Logo em seguinda, a Frauenkirche não suportou os quase 1000 graus e desabou, sendo completamente destruída.
Ela ficou em ruínas, exposta nas ruas de Dresden, durante 50 anos, até a unificação das duas Alemanhas. No começo dos anos 90, um grupo de 14 pessoas se reuniu com o objetivo de reconstruir a Igreja da maneira mais fiel possível. Eles começaram um trabalho de resgate e catálogo de cada pedacinho de pedra que ficou empilhada por lá. Ao longo do tempo, aquelas 14 pessoas se transformaram em mais de 5 mil, incluindo engenheiros e arquitetos que se disponibilizaram pra ajudar na restauração.
No fim, até a Coroa Britânica e o Governo Norte-Americano, principais responsáveis pelo colapso da igreja original, contribuíram para o restauro e, em 2005, a Frauenkirche estava novamente pronta, com a estátua de Martin Lutero na sua frente.
Difícil não se emocionar!
Katholische Hofkirche
A Catedral de Dresden fica bem de frente pra Ponte de Augusto e é um dos cartões postais mas famosos da capital da capital da Saxônia.
E ela também tem uma história bastante curiosa.
Você já sabe que Augusto O Forte comprou o título de Rei da Polônia por puro capricho. Como os poloneses precisavam dessa grana na época, não se importaram em ver um estrangeiro comprando a sua coroa, mas impuseram uma condição: ele precisava se converter ao catolicismo.
Sendo o povo da Saxônia majoritariamente protestante, ele teve que, além de submeter à conversão, construir uma catedral católica na cidade pra mostrar sua devoção.
Para isso, Augusto contratou o arquiteto italiano Gaetano Chiaveri pra projetar a igreja, que foi construída entre 1738 e 1751. Você percebe que é uma construção cujo estilo não tem nada a ver com as outras do centro histórico, sem aquele rococó todo.
Essa igreja, gerou muitos protestos dos moradores de Dresden, que não queriam símbolos católicos por lá. A coisa foi tão intensa que dentro da igreja existe uma área própria para as procissões e um caminho elevado ligando a igreja ao Palácio Real, assim não era necessário expor a população protestante às cerimônias e rituais católicos.
Fürstenzug
A região de Dresden é bem famosa por causa da produção de porcelana. Conhecida como Porcelana de Meissen, ela é uma das melhores e mais caras do planeta.
Numa rápida caminhada pelo centro histórico, você vai encontrar algumas lojas que vendem itens de decoração feitos com esse "ouro branco". E eu falo ouro branco porque realmente os preços podem te assustar bastante. A gente viu algumas peças por 1.000, 2.000 e até 5.000 Euros! Mas é claro que sempre tem aquele souvenir baratinho para os viajantes levarem como recordação.
Com toda essa cultura da porcelana, é em Dresden que você vai ver a maior obra de porcelana de todo o mundo!
A Fürstenzug é uma parede de 102 metros de comprimento por 10 metros de altura e que retrata, em ordem cronológica, a vida de 35 nobres, duques, reis e eleitores que governaram a Saxônia entre 1127 e 1904.
São mais de 23 mil pedaços de porcelana de aproximadamente 20x20 centímetros. E pra sorte de todos nós, ela quase não foi atingida pelo bombardeio de 1945.
A gente ainda tem muito mais pra falar sobre Dresden, Alemanha e Polônia.
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O Viagem Criativa viajou para Dresden com apoio da EasySim4U e do Visit Dresden! Todas as opiniões expressadas aqui são nossas!
