Nunca escondi de ninguém que a minha ideia principal ao criar o Viagem Criativa, um ano e meio atrás, era mostrar para as pessoas que o mundo é grande demais pra ficar viajando sempre para os mesmos lugares.
Nova Iorque, Paris ou Miami são lugares incríveis, obviamente. Mas existe muito mais do que isso e eu sempre fui muito mais interessado em lugares menos conhecidos, remotos e diferentes do que em grandes metrópoles do mundo.
Por isso, quando fui convidado a participar da Nordic Bloggers' Experience, não pensei nem sequer por um segundo. Confirmei minha presença e tratei de começar o planejamento para passar alguns dias no assustador inverno Finlandês.
Sim, assustador! Isso porque tudo que a gente ouve falar aqui no Brasil sobre o inverno na Escandinávia é sobre o frio congelante, as pouquíssimas horas de sol por dia, uma população fria, triste e pouco comunicativa, além dos altos preços cobrados por lá.
Tudo isso realmente assusta e pode até desencorajar algumas pessoas a visitar a região nos meses mais frios. Mas, de onde vem esse medo? De ler uma revista dizer tudo isso?
Sempre achei que é melhor ir até lá e constatar que realmente as coisas são terríveis como se diz, do que simplesmente acreditar em algo que li, independente de onde.
Eis que, desprovido de qualquer julgamento pré-concebido, saí de São Paulo com 35 graus de temperatura e desembarquei no dia 13 de janeiro em Helsinki, debaixo de um belíssimo sol e 13 graus abaixo de zero.
Essa temperatura negativa foi a única coisa que veio a se confirmar diante de tudo o que eu havia lido antes. Nada poderia me deixar preparado para o imenso calor que me rodearia com toda a beleza, história, cultura, comida, bebida e - principalmente - com as pessoas da Finlândia.
E olha que essa "resistência" ao inverno de lá não é uma exclusividade nossa. A frase que mais ouvi durante os meus dias na Finlândia foi "ah, mas você precisa voltar aqui no verão!", "volte no verão, a cidade fica linda!". E, invariavelmente, eu respondia "porque no verão? esqueçam o verão! ele está a seis meses de distância! eu escolhi estar aqui no inverno, vocês têm muita coisa linda pra nos mostrar, então mostrem e deixem o verão pra depois!"
Tanto em Helsinki quanto em Porvoo - a cidade do interior em que o meu grupo passou três dias - a cada sorriso que eu dava, recebia um duas vezes maior em troca.
Desde pessoas acostumadas a lidar com estrangeiros, como as meninas que trabalham na Secretaria de Turismo, até senhoras aposentadas de 70 anos que fizeram o maior esforço do planeta pra me convencer a pular dentro de um buraco de gelo a -18ºC (essa história merecerá um post especial!), todos esbanjaram atenção, alegria e fizeram cada momento na Finlândia parecer um dia na minha própria casa. Até mesmo uma conversa com um bêbado no bar virou algo inesquecível pra mim.
Talvez o maior exemplo dessa hospitalidade aconteceu na terça feira, dia 14 de janeiro. O pessoal da Secretaria de Turismo da cidade de Porvoo publicou no Facebook deles um post sobre a Nordic Bloggers' Experience, contando que 5 blogueiros (além de mim, o Youssef do Marrocos, a Amanda dos Estados Unidos, a Adeline da França e a Janicke da Noruega) passariam alguns dias na cidade e perguntando se alguma família local se disponibilizaria a fazer um jantar típico finlandês e nos receber em sua própria casa.
A primeira pessoa levou apenas 20 segundos pra ligar pra Secretaria e fez questão de nos receber. E depois dela, outras tantas pessoas ligaram pra lá, querendo a mesma coisa.
E na terça à noite, lá fomos pra casa da Meku, uma mulher incrível, e sua filha Johanna, que dedicaram algumas horas pra fazer um jantar com entrada, prato principal, sobremesa e diversas bebidas típicas do país. A Meku trabalhou por muitos anos na Finnair, a companhia aérea da Finlândia, e por isso havia conhecido uma boa parte do planeta.
Contou muitos casos, ouviu tantos outros e deixou sua casa sempre à disposição pro que fosse necessário nos nossos dias por lá. É mais ou menos como a Aline disse na entrevista que fiz com ela: você não consegue conhecer um país, um povo ou uma cultura sem entrar na casa das pessoas. Andar pelas ruas e ver as fachadas é apenas 50% do lugar. A outra metade está lá dentro e pode apostar: sempre de braços abertos pra te receber!
Talvez esse tenha sido o motivo dela querer tanto nos receber. Apesar de aposentada, ela ainda tem no sangue essa vontade de ouvir histórias e conhecer pessoas que até algumas horas antes eram completos desconhecidos e com chances nulas de entrarem em sua vida. E com imensas chances de jamais se encontrar novamente. Mas quem se importa? Aquele momento já estava eternizado no coração de cada um de nós.
A noite - e toda a nossa estada - em Porvoo foi memorável pra nós e também para o pessoal da cidade, tanto que nos dias seguintes fomos destaques no jornal da cidade (incluindo uma foto gigante minha!), que falou um pouco sobre as atividades que realizamos por lá, sobre o jantar na casa da Meku e as impressões que tivemos do interior da Finlândia, um mundo bem diferente de que estamos acostumados.
Enfim, o fascínio de viajar sem um pacote de viagens que te limita e te deixa sem a liberdade de mudar o seu rumo a qualquer momento é ter o imprevisível como algo certo a cada esquina que você dobra. Bom ou ruim, o fator surpresa é algo único e que - sem clichês! - não pode ser medido em unidades financeiras. Ele só pode ser vivido e lembrado pra sempre!
Estou numa rápida passagem pelo Brasil - na próxima quarta (29), embarco pra minha próxima viagem, na Suécia - mas vou tentar escrever sobre algumas outras experiências detalhadas na Finlândia. O fascínio deles por arte e design, a relação extrema com a sauna e tudo que a rodeia, a comida, a bebida e tudo mais. Tentarei destrinchar alguns desses temas nos próximos dias, mas talvez demore um pouco mais do que eu imagine.
O que quero resumir com esse post-introdução é: experimente! Fuja do tradicional, faça algo diferente, inesperado e tenha um patrimônio que jamais poderá ser tirado de você: sentir-se vivo!
O Viagem Criativa viajou à Finlândia a convite da Nordic Bloggers's Experience, e com apoio do Visit Finland, Visit Helsinki e Finnair.
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