Entender os motivos pelas quais os finlandeses gostam tanto da sauna é relativamente fácil. Afinal, muito mais do que algo cultural ou histórico, a sauna é uma prática que traz uma sensação física muito boa, e isso por si só já poderia explicar porque eles têm essa prática como algo tão sagrado.
Mas o "segundo amor" de todos lá na Finlândia é um pouco mais complexo de ser explicado e consequentemente, entendido.
Trata-se do design finlandês.
Ele é um orgulho imenso pra todos e faz parte do dia-a-dia muito mais do que a gente consegue imaginar. Apenas pense que, coisas tão comuns como colheres, tesouras ou um porta-velas podem facilmente se transformar em objetos de decoração na casa de alguém que more na Finlândia.
É difícil saber exatamente quando esse fascínio pelo design começou, mas é fácil perceber a proporção que isso tomou hoje em dia. No meu primeiro dia em Helsinki, visitei a Fábrica de Design da Ittala, onde a principal ideia é justamente a de transformar o mais comum dos objetos em obras de arte.
O show room dos caras é cheio desses objetos que, por mais simples que pareçam, acabam virando um trabalho digno de estar em qualquer museu de design pelo mundo.
O caso das tesouras laranjas, que você vê na foto abaixo, é bem curioso. Desde 1967, uma empresa chamada Fiskars vendeu mais de 1 bilhão delas ao redor do mundo.
Acontece que, quando essas tesouras começaram a fazer sucesso, naturalmente elas começaram a ser imitadas por concorrentes. E a saída encontrada pela Fiskars foi bem simples: eles patentearam a produção de tesouras laranjas no mundo inteiro! Isso significa que até hoje, quem quiser produzir tesouras com o cabo dessa cor, precisa pagar uma grana pra eles. Daí dá pra ter uma ideia de como eles se tornaram referência no assunto.
Outra coisa que me chamou a atenção, tanto na Ittala quando em Porvoo - a cidade do interior em que passei alguns dias - foi a quantidade de ateliês disponíveis para que os artistas se instalem, gratuitamente.
O legal é que apesar do artista ficar alocado dentro da empresa - seja ela pública ou particular - ele não tem obrigação nenhuma de produzir algo pra ela. Ou seja, o cara tem total liberdade de fazer o que bem entender, de acordo com sua própria inspiração e sem a pressão de prazos ou diretrizes estabelecidas por outras pessoas.
Em Porvoo eu conheci o Antti, um artista que tem seu ateliê dentro do prédio da Secretaria de Turismo e desenvolve sua arte baseado em letras de bandas de metal. Ele produz trabalhos de live-painting junto com bandas locais. Enquanto a banda toca fazendo o seu show, ele pinta um quadro ao vivo, como parte da apresentação.
E assim como ele, tantos outros artistas independentes ganham a vida fazendo aquilo que acreditam, com a liberdade de produzir o tipo de arte que mais gostam.
Talvez o grande trunfo do design finlandês seja justamente o de não monopolizar esse mercado com grandes marcas e fábricas, deixando que os artistas menos conhecidos também consigam tudo que é necessário para mostrar seu trabalho e levar a fama do design da Finlândia cada vez mais longe.
Que continuem assim!
O Viagem Criativa viajou à Finlândia a convite da Nordic Bloggers's Experience, e com apoio do Visit Finland, Visit Helsinki e Finnair.
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